Em busca dos três filhos, mulher até já enviou carta a Dilma Roussef

O antigo álbum mostra os rostinhos de bebês que hoje, pelos cálculos da mãe

Todos os dias antes de ir para o trabalho, Renata Lúcia Pessanha Félix, de 43 anos, beija as fotografias dos filhos Jhonata, Max Miller e Rosilene. O antigo álbum mostra os rostinhos de bebês que hoje, pelos cálculos da mãe, têm 18, 20 e 30 anos, respectivamente. Por não ter condições econômicas para criá-los quando nasceram, a empregada doméstica os entregou aos cuidados de outras famílias. Atormentada pela dor do abandono, Renata fez uma promessa a si mesma há uma década: usaria todos os meios para reencontrá-los.

A doméstica, que vive no Pilar, em Caxias, se viu diante de um quebra-cabeças com poucas peças disponíveis: o certificadde batismo de um filho, a cópia do registro de outro e o primeiro nome da mãe que adotou Rosilene. Mesmo analfabeta, Renata conseguiu enviar uma carta à presidente Dilma Rousseff contando sua história. E recebeu uma resposta curta, porém animadora, na qual o gabinete da presidência encaminha a demanda ao Ministério da Justiça.

— É o meu tesouro. Isso aqui fez as portas se abrirem. Agora, as coisas estão começando a andar — anima-se ela, emocionada ao imaginar o reencontro com os filhos: — Só quero pedir perdão e dizer o quanto amo os três.

Desistir? Jamais!

O caso foi analisado na Defensoria Pública. Num primeiro momento, ela foi recebida na Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, que encontrou uma primeira pista.

Numa carta enviada pela Justiça do Rio à comarca de Santa Catarina, em 1997, consta o nome de um dos filhos, Max Miller de Souza Pessanha. O nome de Renata aparece como requerente do processo, o que pode ser um indício de que a doméstica, diante do juiz, assinou a autorização para adoção em outro estado. Na consulta, no entanto, não foi possível conhecer o teor do processo. Como os três filhos de Renata já são adultos, o caso será encaminhado ao Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos.

A busca de Renata, porém, pode resvalar na jurisprudência da adoção.

— Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o adotado tem o direito de conhecer sua origem ao completar a maioridade, mas a mãe biológica que concorda com a adoção não tem esse direito — explica a defensora pública Eufrásia Maria Souza das Virgens: — Mas, se a família que adotou tiver interesse, há alguma chance

Nada desanima Renata:

— Sou uma analfabeta que conseguiu escrever para a Dilma, você acha que vou desistir? Vou até o fim.

Na infância, abandono

Abandonada ainda na infância pelos pais, Renata teve a primeira gravidez aos 13 anos. Quando não conseguia dormir na casa de algum conhecido, de favor, dormia na rua. Não trabalhava e vivia da ajuda de algumas pessoas. Por isso, decidiu dar seu bebê para alguém que tivesse condições de criá-lo.

— Comecei a procurar alguém para dar minha filha, até que uma moça que me ajudava dando roupas disse que tinha encontrado uma mãe adotiva. Quando minha filha nasceu, eu a batizei de Rosilene, mas acho que a nova mãe deu o nome de Alessandra — diz Renata.

A relação entre mãe e bebê foi curta. Logo após o nascimento, a menina seguiu para os braços da mãe adotiva.

Anos mais tarde, Renata engravidou de Max Miller e, no ano seguinte, de Jhonata. A situação financeira ainda estava difícil, mas ela decidiu tentar criá-los. Porém, quando o mais velho fez 2 anos, quis dar a eles a oportunidade de ter uma vida melhor. E, assim, repetiu o gesto de entregá-los a outras famílias.

Renata nunca mais teve contato com os pais das crianças. Hoje, casada, a empregada doméstica mora com o marido e o filho deste casal: Marlon Pessanha, de 20 anos, que tem esperança de conhecer os irmãos.

— Desde pequeno vejo minha mãe lutando para encontrá-los — diz Marlon: — Gostaria muito de conhecer meus irmãos e vê-la, enfim, realizar seu maior sonho.