Humanidade em versão digital

Com o seu projeto científico internacional, intitulado Iniciativa 2045, o milionário russo Dmitry Itskov procura nada menos do que a imortalidade do ser humano. O desafio tecnológico da polémica ideia é transferir a consciência individual para robôs e hologramas.

Em meados de junho passado, o Lincoln Center de Nova Iorque recebeu o II Congresso do Futuro Global 2045, no qual especialistas internacionais em campos como a neurologia, a inteligência artificial e a robótica debateram em profundidade as possibilidades e os avanços da Iniciativa 2045, também conhecida por Projeto Avatar, cujo derradeiro objetivo é proporcionar a imortalidade aos seres humanos (https://2045.com). Para isso, estão previstas quatro fases: Avatar A (entre 2015 e 2020), que será alcançada quando conseguirmos controlar um androide à distância através do pensamento; Avatar B (2020–2025), que consiste no transplante da massa cinzenta de uma pessoa falecida para um robô; Avatar C (2030–2035), que permitirá criar um androide com um cérebro artificial onde se situará a consciência individual, com todas as suas memórias e conhecimentos; e, finalmente, Avatar D (2040–2045), altura em que a mente do ser humano será transferida para um avatar holográfico baseado em pura energia, sem limites físicos. O empresário russo Dmitry Itskov, promotor deste plano visionário, explica-nos os seus principais aspetos.

 

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Como nasceu o Projeto Avatar?

 

Em 1999, fui cofundador de uma start-up na internet que, depois, evoluiu até se transformar na New Media Stars, uma companhia diversificada de media online. Em 2005, decidi dedicar-me a um importante projeto social e, em paralelo, interessei-me pelas tecnologias destinadas a prolongar a vida. Em 2009, reuni com diversas personalidades e ocorreu-me a ideia de fundar uma iniciativa científica de caráter público, consagrada à evolução humana; um movimento social e uma rede online com o propósito de popularizar a ideia de imortalidade cibernética. Acabou por se tornar a missão da minha vida. Um ano depois, encomendei um estudo a cientistas e líderes espirituais sobre o tema da transferência de uma consciência humana para um corpo artificial. Com a ajuda de especialistas russos em interfaces neuronais, órgãos artificiais e sistemas cibernéticos, formulei o Projeto Avatar, que recebeu o apoio do Dalai Lama em março de 2012.

Que tipo de futuro aspira criar?

A nossa intenção é construir uma sociedade em que as pessoas possam viver na abundância e durante muito tempo, e isso não apenas no nosso planeta natal. Embora já sejamos tecnicamente capazes de enviar colonos para a Lua e Marte, a nossa constituição biológica não nos deixaria sobreviver lá durante muito tempo. Os corpos artificiais, porém, permitiriam que nos transformássemos em futurnautas, os primeiros povoadores, os conquistadores do universo. Nessa altura, não necessitaríamos de comer nem de beber, sobreviveríamos ao frio e ao calor extremos e conseguiríamos adaptar-nos às altas e baixas pressões.